segunda-feira, 6 de abril de 2020

Negar ou omitir não muda o que é

Eu cresci sabendo que era preta. 
Minha pele é mais escura, meu cabelo não é liso, minha mãe é preta, minha vó era preta e minha bisavó, também preta e filha de africanos, nasceu ainda na senzala. 
Eu não achava que isso fazia diferença na minha vida, até que algumas pessoas e situações me fizeram acreditar que eu valia menos por isso. 
Não falar sobre essas situações, não me faz branca. Negar ou omitir não muda o que é. Sou preta. E a cor da minha pele já provocou olhares desconfiados, injúrias raciais, entre outras situações que me fizeram crescer com um sentimento enorme de desvalor e inferioridade. Meus psicólogos sabem do que eu estou falando. 
Penso que, uma nova visão deve ser trabalhada ainda na infância, para que mais cedo compreendam que a cor da pele ou a textura do cabelo são só características. Ninguém é menos capaz ou "mais bandido" porque tem pele preta. 
Discriminação existe em todo lugar, de várias formas.  
Não falar sobre isso, não faz ela acabar. 
Olhar, aceitar que existe e trabalhar o assunto são os primeiros passos para uma mudança de paradigmas. E quem sabe, mudar o resto da história.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Manias, esteriotipias e muito amor

O silêncio que durou quase quatro anos foi quebrado por uma voz doce, às vezes estridente, que enche todo o ambiente.
A gargalhada é fácil e as histórias podem ser repetidas um número incontável de vezes, porque em todas elas, há um motivo pra sorrir.
A mesma imaginação que falha na hora de criar uma história, pode acreditar que animais conversam e que se importam com o dia dele na escola.
As gavetas não podem estar mal fechadas e a assimetria dos laços do tênis podem atrasar até o passeio mais esperado.
Autodidata em tecnologias, reconheceu os números antes mesmo de saber contar, mas ainda sofre com barulhos que o tiram de seu mundo calmo e tão próprio.
Com uma curiosidade ímpar, deixa seu ouvido te guiar, e se embrenha cada vez mais no inglês, que parece-lhe tão familiar quanto a língua que hoje ele não deixa descansar.
Ele faz parte de um grupo cada vez menos raro, de pessoas que não conseguem trabalhar com incertezas, que tem uma necessidade imensa de exatidão, que possuem manias, esteriotipias, mas que não deixam de ser doces, amáveis, inteligentes e incapazes de mentir.
Seres verdadeiros, na lealdade do adjetivo, que vieram pra multiplicar o amor naqueles que o cercam, pra ensinar a paciência quando temos que explicar de novo e de novo, aquilo que já foi dito. Vieram nos devolver aos livros, nos reensinar história e geografia, quando precisam que estejamos ao seu lado, pra lhe explicar o que é tão simples para alguns, e que parece de outro mundo pra eles.
Vieram trazer forma, rotina, metodologia. Mas também luz e força.
Foi assim que ele chegou: de olhos grandes, com um silêncio só dele e a calma de quem trazia dentro de si, todo o amor do mundo. Ele é diferente. Eu sou diferente. Você também é.
Essa é a magia de acordar todos os dias e tê-lo comigo: perceber que não somos iguais, que podemos ser diferentes e melhores sempre. Mas sobretudo, que o amor que carregamos tem uma linguagem universal, que decifra silêncios, que traduz olhares, que aproxima pessoas e que torna eterno todos os bons momentos de uma vida que escolhemos passar juntos.
Meu mundo é azul.
Mas todo dia descobrimos novas combinações de cores, que tornam nossa vida ainda mais alegre e cheia de possibilidades.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Mais importante que o motivo, é o objetivo

Eu não sei pra você, mas pra mim não tinha coisa mais difícil de engolir do que aquela resposta: "porque sim" ou "porque não", que meus pais me davam, quando eu era criança.
Mas o fato é que depois de 35 anos, eu entendi que tudo não passava de um plano deles, junto com Deus, pra que eu aprendesse algo muito valioso na vida: ACEITAÇÃO.
Nem tudo tem resposta ou explicação. Mas creio que tudo tem um objetivo.
E eu peco muito na busca do porquê, esquecendo muitas vezes o para que.
O "por que" te atrasa, te bloqueia, te estaciona. Ele te coloca na posição de vítima ou até de criança birrenta (meu caso, muitas vezes). Por algum motivo, a gente pensa que tem que saber tudo ou não aceita o que se apresenta em nossas vidas, como se tivéssemos conhecimento de tudo que é bom pra nós. 
Como uma história que escutei uma vez, nossa visão é de galinha. De cabeça baixa, ciscando, não conseguimos enxergar mais do que alguns centímetros em torno dos nossos pés. Mas a visão de quem coordena nossa vida toda, é de águia. Lá de cima, Ele vê tudo e trabalha num contexto muito maior do que o que podemos supor. Então, o porquê pouco importa. O foco tem que ser no objetivo que tem determinada situação na sua vida. É fácil? Claro que não. Mas é possível.
 Lembro que passei uma fase bem difícil há uns anos atrás. Meu vitimismo só queria saber o motivo. Dormia e acordava pensando no porquê (e nunca tive a resposta). Um dia, depois de ler uma frase que dizia que quando a lição não é aprendida, o evento se repete, resolvi mudar o discurso. O medo de viver aquilo outra vez era tanto, que resolvi aprender a matéria, pra poder mudar de fase, e comecei a me perguntar constantemente: o que eu tenho que aprender com isso? 
Um dia, como mágica, a resposta veio clara, como se alguém tivesse olhado nos meus olhos e dito. 
E constatar que meu crescimento era o objetivo de todo aquele acontecimento, foi sensacional. Descobrir que Deus sempre esteve trabalhando pra me fazer alguém melhor, me mostrou que o Amor sempre foi o objetivo.
"Qual é a luz desse acontecimento?" Esse tem que ser o foco: descobrir quão grande você pode se tornar, diante dos reveses da vida ou daqueles acontecimentos onde jamais conseguiremos os porquês.
Lembrando sempre que tudo que a gente resiste, persiste. 
Então...Aceita logo, que dói menos!


terça-feira, 18 de abril de 2017

Escolhas

Você escolhe.
Gosto muito dessa frase e repito-a sempre para que eu não me esqueça, não me traia, não me sabote.
Teve uma fase grande da minha vida em que eu era sempre "vítima". As pessoas faziam pra mim, contra mim, por causa de mim.
Se não fosse pelo complexo de inferioridade que eu carregava na época, podia até julgar tal pensamento como egocentrismo.
NÃO. As pessoas não agem contra mim e nem contra você. Elas agem em favor delas (o que é bem diferente). Agem de acordo com o que elas querem, com o que pensam. E nós fazemos o mesmo. Ou pelo menos deveríamos, claro que respeitando o limite "territorial" do próximo.
Porém, somos diferentes uns dos outros. A minha régua não é a sua medida. O seu pensar não tem que ser como o meu. E aí tá a grande dificuldade da humanidade.
Eu escolho o que vou vestir, comer, dizer, fazer, plantar...Assim como o outro. Mas não posso querer que ele aja da mesma forma que eu.
Cada um vive e enxerga baseado em suas experiências pessoais. Entender e respeitar isso é sinal de maturidade.
Mas e se o que ele fez influencia diretamente na sua vida???
Bom...Nesse momento, você pode se sentir injustiçado, desejar vingança eternamente e procurar um quarto escuro onde você possa se esvair em lágrimas até que não tenha mais força.
Ou...Entender aquele acontecimento como uma oportunidade de crescimento e mudança. A vida segue um fluir natural. E esse fluxo sempre te leva a caminhos melhores. Uma boa alternativa também pode ser olhar aquele exemplo e decidir o que não quer ser/fazer na sua vida. Mas inegavelmente, o momento deve ser de gratidão.
Como diz a frase: Não é o que fizeram para você. É o que você faz, com o que fizeram pra você.
Por um tempo, eu fiz choro, questionamentos, revolta, lamentação. Até o dia em que percebi, que churrasco, amigos e ensinamentos são bem mais lucrativos.
Desenvolvi também mais amor, tolerância, empatia. A tal da paciência ainda está na linha de produção. Tenho fé que logo ela fica pronta.
Mas sobretudo, entendi que todos os desafios, se bem aproveitados, nos levam a ser pessoas melhores que fomos. Que apesar de qualquer pesar, eu posso sempre ser mais doce, mais amável, mais segura, mais confiante. Basta que eu escolha esse caminho.
Escolha você. Por você.
Você sempre terá mais daquilo que ofertar.





quarta-feira, 12 de abril de 2017

Quanta importância você dá?

"Bati meu carro, meu celular quebrou, perdi meu vôo, meu filho foi mal nas provas, meu sócio me enganou, me separei, estou com contas atrasadas..."
Vários motivos pra tirar o seu humor, seu ânimo e o seu sossego.
Mas qual a importância disso na sua vida, daqui 5 anos???
Acredite: nenhuma!
Se você pensar que isso importará pra você, passado esse tempo, então vale a pena gastar energia. Caso contrário, abandone.
As coisas tem a importância que damos a elas. E na maioria das vezes, abusamos dessa nossa capacidade.
Como diz um provérbio: "Se um problema tem solução, não se preocupe, porque tem solução. Se o problema não tem solução, não se preocupe, porque ele não tem solução".
Preocupar-se é gastar energia com aquilo que você não quer. E se a vida ainda não está como você gostaria, não melhorará porque você está lamentando ou reclamando.
Se pensarmos na irrelevância das coisas, talvez nos empenhemos em usar o tempo com aquilo que não é perecível.
E o tempo é um remédio amargo, mas que ajeita todas as coisas. Basta que ele passe.
Me lembro que no dia que fazia 6 meses que tinha perdido meu pai, me peguei sorrindo por um motivo qualquer. Nesse momento, comentei com a minha mãe que quando ele partiu, imaginei que nunca mais seria capaz de sorrir. Isso foi um acontecimento importante na minha vida: perder meu pai. Porém nem mesmo a dor que eu sentia por aquele evento (que era dilacerante), foi eterna.
Eternos foram os bons momentos que vivi com ele, os ensinamentos, o amor que partilhamos.
Importa pra sua vida daqui 5 anos o quanto você amou, quanto tempo de qualidade dedicou ao seu filho e à sua família, quantas pessoas você ajudou, quantos sorrisos e abraços distribuiu, quanto foi capaz de perdoar...
Importa daqui 5, 10, 15 anos o que você fez pra que você e os que estão a sua volta fossem mais felizes.
O resto? Deixa pra lá...

domingo, 2 de abril de 2017

O amor não precisa de nomes

Com o tempo, a maturidade e os eventos que a vida nos apresenta, a gente começa a ter uma melhor percepção de si mesmo.
Eu tenho notado que me conheço melhor, ao passo que me abro para perceber que cada dia preciso aprender mais.
E uma das minhas necessidades (acredito que da maioria dos seres humanos) é a de nomear coisas, situações, eventos, sentimentos...
NOMEAR. A sensação que tenho é que quando nomeamos temos mais domínio sobre aquilo. Quando sabemos o que é, dá menos medo. Porque se eu conheço, posso prever os desdobramentos, antever os riscos, estudar as possibilidades, me preparar para o que vai acontecer.
Quando tem nome, não é desconhecido. E eu posso trabalhar melhor com aquilo.
Aí, nos deparamos com situações onde não é possível nomear. Tem coisa que não tem definição. Simplesmente foge do "rol de coisas conhecidas" ou dos padrões preestabelecidos. Aí, a gente se pergunta: mas como eu vou trabalhar com isso, se nem sei o que é?
Mas há momentos em que as nomenclaturas pesam, em que a gente não sabe o que faz com aquilo que foi definido, diagnosticado, esclarecido.
Me vi nessa situação essa semana.
Por anos, procurei um nome, uma definição, uma certeza. E quando a encontrei, precisei de alguns dias pra saber o que fazer com ela.
Como todo desafio da vida, você escolhe como absorver. Pode olhar uma situação e entender-se vítima das circunstâncias. Ou sentir gratidão pela oportunidade de crescer e superar.
Acredito (e já escrevi isso) que Deus só fez filho pra crescer, brilhar, ser feliz. Essa semana, Ele me mostrou como confia em mim. Se eu já me sentia privilegiada, hoje sei que  não foi à toa que recebi tudo o Ele me deu. Eu sou forte. Ele sabe disso. E quer que eu me torne ainda mais.
Com nome ou sem nome, Ele sempre acreditou que eu seria capaz. E sou. Porque Ele me dotou da arma mais poderosa que existe, que nada, ninguém e evento algum será capaz de tirar de mim: AMOR.
O amor me move, me guia, me levanta, me sustenta. E o amor CURA.
O amor não precisa de nomes. Ele precisa SER, precisa fluir. E tudo se ajeita, a gente cresce, supera, conquista, desenvolve. Eu tenho esse dom! E é com ele que a partir de agora, eu sigo por uma estrada de nome diferente, mas cheia de beleza. Onde plantaremos muitas flores, colheremos muitas conquistas e o único objetivo será sempre AMAR e fazer "crescer" a parte mais bonita do meu coração. Te amo infinitamente, meu amor! Somos e seremos cada dia melhores!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Tão carente quanto a gente

Jesus não teve dificuldade.
Mas Ele sabia que amar o próximo como a nós mesmo, seria um desafio gigantesco pra humanidade.
Porque somos seres egoístas. Porque vivemos olhando exclusivamente pra nós mesmos.
São as nossas necessidades que não foram atendidas, os nossos sentimentos que foram feridos, as nossas expectativas que não foram alcançadas.
Vivemos para nos satisfazer, nos curar, nos saciar.
E todo aquele que "atrapalha" essa nossa busca, torna-se um responsável pela nossa frustração.
Acontece que aquela pessoa tem um ego assim como a gente. Ela também está vivendo pra satisfazer carências e desejos, como nós.
Os dela podem ser diferentes, mas não menos importantes pra ela.
Aí, a gente vive em mundos próprios, com necessidades emergentes, que nos impedem de olhar o outro e entender que ele também é um mundo.
Acredito que aí vem a parte que Jesus quer que a gente aprenda.
Entender que o outro é feito de crenças, que possui um determinado grau de evolução e que acima de tudo, não fez nada contra nós, mas sim a favor dele. Isso é um exercício de amor ao próximo.
Compreender que cada um age da melhor maneira possível, usufruindo dos recursos e conhecimentos que tem, nos faz sair do egocentrismo e olhar para o outro, que muitas vezes "nos feriu", e tentar compreender.
São raros os casos daqueles que agiram com a única intenção de ferir. Em quase todas as histórias que conheço, a busca era urgente por saciar necessidades que machucavam. Mas a gente só consegue compreender isso, quando sai do eu e tenta olhar o outro, com os olhos que Jesus propôs.
Exercício dificílimo! Porém, não impossível.
Quando a gente deixa o ego, a gente abandona o eu e vive o nós. E o nós é o Universo, cheio de gente diferente, tão carente quanto a gente, mas que também está buscando uma maneira de ser feliz. E se olharmos o próximo, com a mesma misericórdia que temos conosco, compreenderemos que tudo é uma questão de amor: uns com mais, outros com menos. Mas que será perfeitamente resolvido quando aprendermos aquele que Jesus nos ensinou.