segunda-feira, 13 de junho de 2011

Descoberta

Em sua rotina, não eram necessários muitos cuidados. Limitava-se a arrumar o cabelo, sem muita vaidade e logo após o asseio diário, se munia do óculos que lhe permitiam enxergar a vida e se esconder do mundo.
O vestido era simples, mas também, pra que algo suntuoso ou insinuante? Se quando o que muito via eram os parentes dos vizinhos que vez ou outra procuravam a venda em que trabalhava para comprar uma pilha ou vela, para as noites de escuridão daquele lugar longíncuo.
E sua vida seguia calma, gostava daquele lugar. Mas como poderia não gostar. Só ali conheceu. Nasceu e foi criada. Estudou na salinha montada na casa da Dona Julia, mulher boa e prestativa, que abriu mão do luxo que poderia ter na cidade e se doou para que aquelas crianças dali soubessem o be-a-bá.
Também não tinha conhecimento da vida. Dona Julia não lhe apresentou mais do que as palavras. Esqueceu de lhe mostrar a vida, lhe falar do amor. Este, ela não conhecia até aquele momento. Até que ele entrou pra comprar... Mas comprar o quê? Ela não sabe. Desnorteada se perdeu entre as prateleiras, produtos, marcas. O que foi mesmo que ele pediu? Mas o que importava o que ele pediu? Era mais interessante olhar seus olhos, escutar sua voz, imaginar o toque da sua mão.
Talvez ela devesse lhe oferecer algo. Mas o que? Gostaria de poder lhe oferecer sua companhia, mas sabe que não deveria. E ele, comprou algo e saiu. Sequer se despediu... Ela esperou que voltasse. Imaginou que ele podia ter esquecido algo e que voltaria. E o amor que ela descobrira se mostrou da maneira mais rápida e arrebatadora que podia conhecer. Intenso e sem explicação, mas não menos doloroso ou sofrido. Será que ele não a viu? Viu. Mas talvez não tivesse tempo de se declarar...Talvez não tivesse coragem de dizer...Assim ela pensou e acalentou sua saudade. Saudade de algo que aconteceu numa fração de segundos, apenas em seu pensamento, desejo, boca e corpo.
Ajeitou o cabelo, arrumou os óculos e atendeu mais um, olhando para porta. Mas ele não voltou.

Um comentário:

  1. Estava esperando pelo dia em que você iria "aparecer" de verdade. Que bom que está aqui. Essa é uma escolha difícil, muitas vezes cobrada, mas que sempre vale a pena.

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