Um dia, ela acordou com o corpo todo em dores. Já não sabia precisar o que doía mais. Como quem tivesse passado por um atropelamento, gemia e suplicava por um bálsamo. Na verdade, não sabia se machucara mais por fora ou por dentro.
Talvez os machucados de fora, fossem as úlceras da alma, que ao invés de serem curadas, lhe corroíam e agora começavam aparecer na pele, ossos e músculos.
Por que a dor de amor é tão forte?
Por que a dor do desamor é ainda mais profunda?
Não bastava o golpe da rejeição, que por algumas vezes, ela recebeu. Agora ela tinha sua cura condicionada a um amor que ela nunca teve: o próprio.
Como se amar, sem acreditar que havia motivos reais pra isso?
Como encontrar a autoestima, quando era castigada pela memória que teimava em reviver momentos e palavras malditas que a remetiam aos momentos de dor mais intenso?
E no meio das lembranças, não sabia o que fazia com aquelas do tempo em que se doou, em que participou, em que viveu a vida deles e em função deles. O que ela faria com os planos não concretizados ou com as fotos de uma vida? Ela foi feliz? Depois de uma análise, ela descobriu que uma parte dessa vida sim.
Mas agora, a luta era pela cura. Um dia de dor, outro de analgésico, mais um de euforia, outro de letargia. E de repente, ela não sabia se tinha o direito de ser feliz.
A sensação de estar pagando pelos débitos de outro que sorri, a consumiam. A ânsia por ter seu sorriso encontrado era cada dia maior. Queria sorrir, ser leve, sem ansiedades ou anseios. Só o mínimo para ser feliz: saúde pro corpo, paz na alma e cura pro coração.
Ela não sabia mais como pedir. Caiu em prantos, prostrada de novo.
E com a força que lhe restava, ergueu a cabeça, mirou pro alto e esperou que Ele mais uma vez a levantasse.